Daniela Kopsch teve que trocar de universidade, pois não aguentava ter que ficar "provando miséria" para os colegas |
Ex-aluna do curso de direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Meire Rose Morais, de 46 anos, soube que havia sido chamada de "vagabunda" junto com outros bolsistas, enquanto ainda estudava na instituição, em novembro de 2010.
Uma colega da instituição a ofendeu sistematicamente em 33 mensagens de e-mail, que tratavam tanto de sua situação como bolsista no ProUni quanto de sua cor - a estudante é negra.
- A turma [da classe] possuía um grupo de e-mails e os ataques vieram depois que encaminhei uma mensagem que tratava de política, pois alguns colegas haviam me pedido. Nos e-mails ofensivos, ela [a agressora] dizia que eu era feia, falava da minha cor e que o "povo" do ProUni era um bando de vagabundos.
Diante da situação, Meire procurou a diretoria da faculdade. A instituição abriu uma sindicância interna para apurar o caso. A jovem diz ainda não ter sido ouvida, mesmo tendo se graduado no fim do ano passado, e teme que a investigação esteja para vencer.
A ex-estudante diz que o preconceito começou no primeiro ano do curso, em 2005, quando estava matriculada em outra turma do curso – ela teve que deixar a faculdade durante um ano por questões pessoais.
Em uma comunidade do Orkut da antiga turma, foram colocadas mensagens criticando Meire por ser bolsista e por sua aparência. Na época, a ex-universitária conversou com os colegas, que acabaram se desculpando.
A bacharel em direito pretende processar a agressora da nova turma da PUC-SP em nível criminal e cível, por preconceito e racismo.
Troca de universidade
Às vezes a discriminação, mesmo que aparentemente mais leve, incomoda tanto que a única saída do aluno é trocar de universidade. Foi o que aconteceu com a jornalista Daniela Kopsch , 24. A jovem estudava em uma instituição de ensino conceituada de Curitiba, no Paraná.
Em nenhum momento ela teve vergonha de dizer que era bolsista em sala de aula, como outros colegas beneficiados pelo ProUni. Mas logo percebeu que alguns alunos tinham um tratamento diferente com ela. Segundo a jornalista, os pagantes cobravam que os bolsistas "provassem a todo momento que não tinham condições de pagar a faculdade".
- Uma vez ouvi comentários quando um menino do ProUni chegou com tênis novo. Não acho que seja por mal, mas as pessoas passam a exigir que o bolsista passe os quatro anos da faculdade provando que é miserável. Depois de um ano, eu não aguentava mais isso e me transferi de faculdade.
Na Univali (Universidade do Vale do Itajaí), em Santa Catarina, Daniela preferiu manter o fato de ser bolsista escondido - ela revelou apenas para os amigos próximos. Mas ela não aconselha os outros bolsistas a fazerem o mesmo, pois acha “um absurdo” as pessoas terem que omitir algo normal em suas vidas, como obter uma bolsa do ProUni.
Inclusão tem que partir da universidade
Sabrina Moehlecke, professora de educação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que as universidades eram restritas a uma elite intelectual e econômica. A partir da democratização causada pelo crescimento de bolsas, cotas e outros benefícios, as tensões começaram a aparecer.
Para a professora, a instituição tem que se preocupar com a inclusão social de todos os alunos.
- Muitas instituições não estão interessadas nisso. Elas têm programas de acesso [para vários tipos de alunos], mas não gerenciam de uma forma que de fato inclua os alunos.
Os bolsistas do ProUni são discriminados até no Twitter. Allan Simon, 19, estudante de jornalismo na Universidade Metodista, reclamou na rede social de alguns problemas de organização da instituição depois de uma palestra. Uma colega da universidade respondeu o jovem também pela internet.
- Ela disse que havia muita gente reclamando de barriga cheia, [pessoas] que [por terem bolsa] estariam tirando vagas de outras, que mereciam estudar mais do que elas. Respondi genericamente, para não criar caso. O preconceito não faz o menor sentido, porque fiz uma prova como todo mundo para entrar na faculdade.
Nota oficial, a Metodista afirmou que repudia qualquer ato vexatório ou de discriminação. A universidade disse também que, caso haja alguma ocorrência nesse sentido, a postura da instituição é, nas esferas de cada curso, mediar e promover a conciliação entre os envolvidos, uma vez que todos têm direitos iguais. A Metodista não tem registros de casos de discriminação, segundo a pró-reitoria de graduação.
Fonte:R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário