domingo, 3 de julho de 2011

Com 20 vezes mais trotes que atendimentos, Samu de Alagoas vai denunciar números ao MP


Veículos do Samu são enviados a locais onde nada aconteceu por causa de trotes em Alagoas

O grande número de trotes para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Alagoas tem causado problemas e até morte de pessoas que necessitam de socorro urgente.

Das 10.166 ligações recebidas no período de 23 a 27 de junho, último feriadão de Corpus Christi, o Samu registrou 6.687 trotes. Das ligações, apenas 313 foram para atendimentos externos. Ou seja, o número de trotes é 20 vezes maior que o de socorros

O índice de 66% de trotes nas ligações durante o feriadão ainda é considerado pequeno para os demais meses do ano. O setor de estatística do Samu revelou que a incidência variou entre 80% e 85% nos meses de abril e maio.

Após inúmeros problemas ocasionados pelas brincadeiras de mau gosto, e cansado de deslocar ambulâncias para locais errados, o Samu vai informar ao MP (Ministério Público Estadual), a partir de agosto, todos os números dos telefones que passam trotes.

A primeira medida adotada para tentar coibir a incidência de trotes foi a gravação de todas as chamadas e a catalogação de dados do telefone que originou a ligação falsa para o número 192. O material fará parte de um relatório trimestral, que vai conter todas as ocorrências.


O artigo 266 do Código Penal Brasileiro estipula as penalidades para quem interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, como o caso de trotes para o Samu.

A pena para o réu varia de um ano a três anos de detenção, além de aplicação de multa. Se o trote ocasionar calamidade pública, aplicam-se as penas em dobro.

A maioria das ligações falsas é originada de telefones residenciais e orelhões. O conteúdo dos trotes vai desde a informações de falsos acidentes até xingamentos e palavrões

Morte por causa de trote

O diretor médico do Samu, Carlos Adriano Silva dos Santos, informou que um trote passado em março atrapalhou o socorro de uma mulher, que morreu após sofrer um ataque cardíaco. Ela necessitava de socorro de uma Unidade de Saúde Avançada, e o Samu não tinha a viatura específica disponível.

O trote mobilizou duas viaturas, além de um carro do Corpo de Bombeiros, para atender a um suposto engavetamento com vítimas presas às ferragens dos veículos na estrada do município de Marechal Deodoro, região metropolitana de Maceió.

“Para não deixar a vítima desamparada, mandamos uma Unidade de Suporte Básico, que não tem médico, para fazer o socorro, mas infelizmente a mulher teve uma parada cardíaca e a técnica de enfermagem não pode reverter a situação. Se tivéssemos enviado uma de suporte avançado, certamente a mulher teria sobrevivido”.

Santos explica que a catalogação dos trotes ocorre no momento em que é detectada a ligação falsa. “As atendentes preenchem um formulário que contém o número do telefone que originou a chamada, o perfil da pessoa que ligou (se é do sexo masculino ou feminino e ainda se é criança, adolescente ou adulto), a data e o horário”, disse ele.

Segundo o diretor médico, a incidência de ligações falsas acontece a cada minuto. Porém, em determinados períodos, muda de perfil. “A maioria dos trotes registrados pela manhã e pela tarde é feita por crianças e adolescentes. Já o período da noite são os adultos, na sua maioria do sexo feminino.”

Para tentar minimizar a incidência de trotes feitos por crianças o Samu desenvolveu o projeto Samuzinho, que consiste na realização de palestras educativas nas escolas da rede pública.

“Mostramos aos estudantes a importância do nosso serviço e destacamos também os problemas que os trotes podem ocasionar para as vítimas que necessitam de socorro imediato”, disse o diretor médico.

Segundo dados do Samu, a regional Maceió possui sete Unidades de Saúde Básica (USB) e quatro Unidades de Saúde Avançada (USA) – sendo que uma delas é específica para atendimento de UTI Neonatal.

Já a regional de Arapiraca tem a serviço da população duas USBs e uma USA. O Samu também conta com o suporte aéreo, feito com um helicóptero em parceria com a Secretaria de Estado da Defesa Social.

Fonte e foto: G1.com

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