Do Jornal de Hoje:
O governo do
Estado do Rio Grande do Norte faliu. Essa é a expressão mais exata para
dimensionar o tamanho do problema financeiro enfrentado pela governadora
Rosalba Ciarlini (DEM), com impacto direto no bolso dos mais de 100 mil
servidores do Estado e problemas de relacionamento com os poderes
Legislativo e Judiciário, que estão sendo chamados por Rosalba para
colaborar.
A ideia do governo, para fechar a folha de julho, é não
repassar integralmente o duodécimo do Tribunal de Justiça, da Assembleia
Legislativa, do Tribunal de Contas e do Ministério Público.
Outro ponto
analisado pelo Governo é escalonar o pagamento dos servidores públicos,
de forma a esperar pelas parcelas do FPE, que são depositadas nos dias
10, 20 e 30 de cada mês. A folha salarial do estado é R$ 310 milhões,
entre ativos, pensionistas e obrigações patronais. O Governo Rosalba
Ciarlini estaria com déficit de cerca de R$ 100 mil para cobrir
integralmente a folha do funcionalismo.
Rosalba já
teria conversado com o presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo
Motta (PMN), a respeito da quebradeira financeira do Estado, e este
teria “compreendido” as dificuldades financeiras do Governo. O
procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis Lima, também já teria sido
alertado pela governadora.
Em entrevista
ao Jornal de Hoje, o secretário Alber Nóbrega não abordou o assunto
diretamente, mas ressaltou que a partir de agosto o Estado tomará
medidas junto à folha de pagamento do Estado, através de uma espécie de
auditoria, visando cortar possíveis gastos ilegais.
O procurador-geral
do Estado, Miguel Josino, disse hoje (19) em entrevista à imprensa que é
imprescindível reajustar, a menor, o salário dos funcionários que
recebem acima do teto salarial estadual, que é o vencimento do
desembargador, pouco mais de R$ 25 mil. Há casos de servidores que
recebem acima dos R$ 60 mil.
Em junho,
quando o governo é obrigado a antecipar 40% do décimo terceiro salário
dos servidores, a administração só pagou o funcionalismo “nas últimas,
após raspar o tacho”.
Em julho, a bomba: “O que já se comenta é que o
Estado não terá condições de pagar a folha completa de julho e vai
tentar negociar com TJ, TCE, MP e AL para repassar a menor o valor
devido aos órgãos”, disse uma fonte da Governadoria.
Apenas até
maio, o governo havia gasto quase R$ 1,4 bilhão com pessoal e encargos
sociais. A despesa foi, de longe, a maior do governo em 2013,
representando 73% das despesas já quitadas neste exercício financeiro.
A
revista Veja revelou em junho que os gastos com pessoal da gestão
estadual de Rosalba Ciarlini só devem piorar nos próximos anos. Em
matéria intitulada “Com a corda no pescoço”, a governadora do DEM é uma
das personagens principais, se baseando em um estudo feito pelo
Ministério da Previdência Social.
Segundo a
matéria, o Rio Grande do Norte deve ultrapassar, no próximo ano, o teto
de 49% de gastos com pessoal. E se não forem tomadas medidas urgentes, o
mesmo ocorrerá nos três anos seguintes.
Como o gestor estadual fica
impedido de realizar uma série de ações quando o Estado ultrapassa o
limite prudencial previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal, isso
significaria que “a administração de Rosalba, que tem direito a disputar
a reeleição de 2014, ficará engessada”, conforme ressaltou a revista.
O pagamento da
folha é feito através da fonte 100, isto é, recursos próprios, fontes do
tesouro. A folha é fechada no dia 25 de cada mês. O secretário Alber
Nóbrega não confirmou dificuldades para o pagamento da folha, explicando
que sua responsabilidade é de apenas compor. “O pagamento é com a
secretaria de Planejamento”, afirmou. Até o fechamento desta edição, não
foi possível contatar o secretário Obery Rodrigues, que tem evitado
contato com a imprensa.
Caso se
confirme a quebra do Estado, o ocorrido só terá paralelo no Rio Grande
do Norte nos idos de 1959/60, quando da transição do governo de Dinarte
Mariz para o de Aluizio Alves. Na época, os servidores do Estado
passaram cerca de três meses sem receber salários. Havia filas de
funcionários para receber os salários. Espera-se que o quadro de 1960
não se repita no Estado do Rio Grande do Norte.
Na avaliação de
fontes ouvidas por O Jornal de Hoje esta semana, o problema é que o
governo do Estado não adotou as providências necessárias de cortes de
gastos e diminuição das despesas que poderia ter tomado no início da
gestão, o que contribuiu para o quadro de dificuldades atual da gestão
estadual.
Agora, diante da iminência de um colapso nas contas públicas
do Rio Grande do Norte, o governo se vê na necessidade de apelar para
que os poderes contribuam, abrindo mão de recursos em favor do
funcionalismo.
O problema é que cada instituição tem seus compromissos
financeiros já agendados e inadiáveis, incluindo a folha de cada órgão.
Sem o repasse integral, o funcionalismo dos demais poderes poderá também
ter atraso no pagamento.
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