O Banco Santander enviou neste mês de julho de 2014 aos seus clientes
de alta renda um texto afirmando que o eventual sucesso eleitoral da
presidente Dilma Rousseff irá piorar a economia do Brasil.
A
análise foi impressa na última página do extrato dos clientes na
categoria “Select”, com renda mensal superior a R$ 10 mil. Diz que se
Dilma melhorar nas pesquisas de intenção de voto, os juros e o dólar vão
subir e a Bolsa, cair.
O texto vem sob o título “Você e seu
dinheiro” e orienta os clientes do Santander: um cenário eleitoral
favorável à petista reverterá “parte das altas recentes” na Bolsa.
O documento do Santander ao seus correntistas mais abastados contém uma análise que já frequentava o mercado financeiro brasileiro de forma difusa, mas nunca de maneira institucional por um grande banco.
Esse
tipo de comportamento do mercado não é novo. Desde a primeira eleição
direta pós-ditadura ocorrem interpretações nesse sentido. Em 1989, o
empresário Mário Amato deu uma entrevista dizendo que se o petista Luiz
Inácio Lula da Silva ganhasse naquele ano, 800 mil empresários deixariam
o Brasil.
Em 2002, quando o mercado financeiro novamente ficou
apreensivo com uma possível vitória de Lula, o analista Daniel
Tenengauzer, do banco Goldman Sachs, chegou a inventar o “lulômetro”,
que previa a cotação futura do dólar caso o petista fosse eleito.
Tenengauzer acabou repreendido pelo banco, que considerou “leviano” e de “mau gosto” o nome de seu modelo matemático.
O
Santander confirmou a autenticidade do documento ao qual o Blog teve
acesso. Em nota, disse adotar critérios “exclusivamente técnicos” em
suas análises econômicas, “sem qualquer viés político ou partidário”.
O
banco reconhece que o texto enviado a seus clientes “pode permitir
interpretações que não são aderentes a essa diretriz” (de se ater a
análises mais técnicas). A instituição emitiu uma nota na qual pede
desculpas ao seus correntistas e diz que adotará providências internas.
De
capital espanhol, o Santander é o 5º maior banco e o 1º estrangeiro em
atuação no Brasil. Fica atrás de Banco do Brasil, Itaú, Caixa e
Bradesco. Em 2000, massificou sua operação de varejo ao comprar o
Banespa, o antigo banco estatal que pertenceu ao governo paulista.
Abaixo, a íntegra da nota do Santander:
“O
Santander esclarece que adota critérios exclusivamente técnicos em
todas as análises econômicas, que ficam restritas à discussão de
variáveis que possam afetar os investimentos dos correntistas, sem
qualquer viés político ou partidário. O texto veiculado na coluna ‘Você e
Seu Dinheiro’, no extrato mensal enviado aos clientes do segmento
Select, pode permitir interpretações que não são aderentes a essa
diretriz. A instituição pede desculpas aos seus clientes e acrescenta
que estão sendo tomadas as providências para assegurar que nenhum
comunicado dê margem a interpretações diversas dessa orientação.”
(Bruno Lupion)
Do Blog do Fernando Rodrigues
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