Vó Nina abraça a filha Zaida após ler a carta
(Foto: Reprodução / RBSTV)
(Foto: Reprodução / RBSTV)
As velas sobre o bolo de aniversário mostram o quanto a data é
importante para os familiares de Vó Nina, de Tramandaí, no Litoral Norte
do Rio Grande do Sul. Mas o significado do momento vai além dos 90 anos
completados pela idosa. A emoção toma conta de todos quando ela lê, com
a ajuda de sua professora, a primeira carta aos familiares que escreveu
em sua vida.
Pausadamente, Nina lê sílaba por sílaba. Mas ninguém tem pressa na
festinha de aniversário improvisada em uma sala de aula. Todos observam
atentamente com um sorriso, muitos com lágrimas nos olhos. Se o esforço
já é comovente, o resultado emociona ainda mais. "Amo muito vocês. E
quero agradecer a minha família do carinho que me dão."
A carta será enquadrada e pendurada na parede. Assim, Nina fará parte
de uma tradição da família. Na casa onde elas moram, há quadros com
textos escritos por todas as filhas, netas e bisnetas. Só faltava a
matriarca. "Tem cartas na parede. A gente manda uns para os outros, e
põe ali", explica Renata Wolff Bonetto, bisneta da Vó Nina.
Nina passou a vida inteira sem ler ou escrever. A filha Zaida Muniz
Alves conta que a demora de nove décadas se deve à forma como ela foi
criada, depois de, ainda bebê, ter perdido a mãe. "Ela fala que foi
criada com um tio, ou não sei com quem, e que lá eram todos muito
brutos. Isso não existia para a mulher. Ela não estudava. Não botavam as
mulheres a estudar", conta.
Irmã de Zaida, Zilda considera o machismo do século passado um dos
motivos. "Antigamente era aquele negócio, a mulher aprender para que?
Era para ela cozinhar e servir o marido", lamenta.
A forma como Nina criou a família inteira, mesmo sem ser alfabetizada,
orgulha a filha Zaida. "Ela andou por tudo, só perguntando, ou pela cor
do ônibus. Sempre assim. Viajou sozinha sem saber nada. Ela mesmo ia aos
colégios nos matricular, sempre ela", conta.
Do G1 RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário