Foto:
Lucas Uebel
/
Getty Images
A volta de Aranha à Arena na noite de quinta-feira, 21 dias após o
episódio de injúria racial, foi marcada por um embate de opiniões dentro
e fora dos campos no empate sem gols entre Grêmio e Santos.
A torcida tricolor ainda se mostrava magoada com a punição que excluiu o
time da Copa do Brasil, enquanto o goleiro deixou o gramado reclamando
das vaias que recebeu por julgar que eram um sinal de que o público
concordava com as ofensas dirigidas a ele naquela noite de 28 de agosto.
Mas era possível sentir a ironia e o racismo velado nas falas de
algumas das pessoas que opinaram sobre o assunto.
Em um bar localizado em frente ao estádio, um senhor
pediu para falar sobre o reencontro com Aranha, e disse que ele seria
chamado pela torcida de “branquinho do Santos” ou “orelha de elefante”.
“Até o Pelé falou que ele se precipitou”, justificava Luiz Fernando
Souza, dizendo ainda que, agora, “macacos” eram apenas rivais colorados.
“Eles têm um macaco na Camisa 12”, afirmava, referindo-se a uma torcida
organizada daquela equipe, e sem considerar suas declarações racistas.
Um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho das Nações Unidas (ONU)
mostrou os problemas do “racismo institucional” no País, porque, apesar
dos avanços, a população negra ainda está muito exposta ainda a
desigualdades em diferentes aspectos.
No mesmo bar, comendo um pastel, um senhor que se
identificou apenas como Luis Antônio reclamava da imprensa do centro do
País e da imprensa vermelha, que é como os gremistas se referem a
jornalistas que eles consideram favoráveis ao Internacional. Para ele, o
ataque ao Grêmio tinha outros motivos, uma vez que um clube de fora do
eixo Rio-São Paulo estava crescendo na tabela.
“Em 1995 a imprensa do centro do País caiu de pau contra
o Grêmio, dizendo que o futebol do Sul era muito violento, que era
maldoso, que aqui só tinha pauleira. Estão tentando criar uma imagem
ruim do time, desqualificando a torcida”, opinava.
Próximos do estádio, um grupo de jovens tricolores bebia
cerveja em volta de um carro. Eles reclamavam da punição, que
consideraram excessiva, dizendo que as injúrias são algo que sempre
aconteceu, mas depois da reclamação de Aranha, o Grêmio foi usado como
exemplo. Colocaram ainda da forma como Patrícia Moreira da Silva
(a menina flagrada nas imagens de TV) foi julgada nacionalmente.
Entretanto, eles pediam que o time desse resposta dentro do campo, mas
não foi o que aconteceu no empate sem gols, graças a pelo menos duas
grandes defesas do goleiro santista.
Outros torcedores como os irmãos Adriana e Dejair
Silveira reclamavam das declarações do presidente da Fifa, Joseph
Blatter, que elogiou a punição do Grêmio, mas que nada disse sobre o
episódio de racismo dos torcedores peruanos do Real Garcilaso contra
Tinga, do Cruzeiro, em partida válida pela Libertadores, no começo do
ano, nem sobre a morte de Kevin Espada, atingido por um sinalizador
atirado por corintianos, no ano passado.
“Existem coisas mais graves, porque ele não falou nada
sobre o que aconteceu com o Tinga, ou da morte daquele menino na
Bolívia”, criticava Adriana. Entretanto, ela condenava o que aconteceu
com Aranha, e dizia que ela mesmo ia fiscalizar a torcida para denunciar
excessos.
O clube colocou microfones em frente a arquibancada para
flagrar possíveis insultos, que não ocorreram, e a polícia reforçou o
efetivo, caso precisasse atender um número elevado de ocorrências.
Foto: Vinicius Costa / Futura Press
Gremistas pegaram no pé de Aranha
Ao todo, Aranha ouviu 29 vaias, quase uma a cada três minutos.
Cada vez que ele encostava na bola, até mesmo fora de jogo, o coro era
grande. Mas ele parecia não se afetar. Na saída se dirigiu aos
microfones para reclamar da postura da torcida. Foi também xingado em ao
menos seis ocasiões. Na sua opinião, aquilo demonstrava que os
tricolores apoiavam o que tinha acontecido.
"Fiquei triste porque deu para ver qual é o pensamento do torcedor gremista.
Não foi só a garota. Ela é quem está pagando, principalmente porque
apareceu, mas tinha muita gente se manifestando hoje contra a minha
atitude, sendo que a única coisa que fiz foi relatar ao árbitro. É a
justiça, é a lei, a punição tem que servir para ensinar", disse o
goleiro.
Marcelo
Grohe, goleiro do Grêmio, amenizou as vaias dizendo que “dificilmente
vou ser tratado com carinho quando vou jogar na Vila (Belmiro)”. Ele
disse ainda que o que aconteceu foi uma lição para todos, mas rebateu
as reclamações do adversário. “O pessoal vai me xingar, me vaiar, assim
como toda nossa equipe. Ele está no direito dele, opinião dele, a gente
respeita.”
Do site Terra
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