O resultado perante a candidata à reeleição Dilma
Rousseff (PT) nas eleições presidenciais de 2014 não representou apenas a
segunda derrota na carreira do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) –
que, em 1992, ainda no PMDB, perdera a prefeitura de Belo Horizonte para
o petista Patrus Ananias. O percentual de 51,64% dos votos obtido pela
petista ante 48,36% do tucano abarca ainda a derrota de Aécio em seu
Estado natal, no qual, além de representar atualmente no Senado, já foi
governador por dois mandatos consecutivos.
A reportagem do Terra conversou com
eleitores mineiros em um dos locais mais tradicionais de Belo Horizonte:
a Praça da Liberdade, na zona sul da cidade, construída no final do
século 19 e cenário das primeiras secretarias de Estado e do Palácio da
Liberdade, antiga sede do governo estadual.
A pergunta a todos os entrevistados foi a mesma: por
que, na opinião deles, o senador e ex-governador reeleito perdera
justamente em Minas Gerais – por 51,3% a 48,6%? Em votos, a diferença
entre Aécio e Dilma ficou pouco acima dos 500 mil eleitores em todo o
Estado; em Belo Horizonte, porém, o tucano levou a melhor: obteve 64,3%
dos votos, contra 35,7% da petista.
Na verdade, ele fez em Minas um governo que não é
exatamente da forma como ele mostrou na propaganda eleitoral da eleição
que acabou. A gestão com prioridade a grandes empresas e questões que
não eram tão divulgadas pela mídia mineira, como o aeroporto de Cláudio
(pista construída na fazenda de um parente de Aécio), mas que vieram à
tona na campanha, além da forma como ele tratou os servidores estaduais
da Educação acabaram sendo decisivos na escolha dos mineiros – eles
sabem que o tal “choque de gestão” não passou de publicidade.
Luiz Fernando Campos, 35 anos, jornalista
O piso salarial dos professores em Minas é uma
vergonha. A carga tributária nossa também é um absurdo de alta.
Some isso a uma forte cultura de governar para o empresariado, mais a
falta de apoio de movimentos sociais, que esses números da campanha no
Estado terão, sim, uma justificativa.
Paola Oliveira, 27 anos, jornalista
A família mineira é muito tradicionalista, portanto,
acredito que houve uma repulsa dela ao tom muito agressivo usado pelo
candidato na campanha contra a adversária. Além disso, ele segue uma
lógica liberal que não me parece algo tão fácil de ser aceito no
interior. Além disso, o mineiro é conservador, acaba se influenciando
por boatos que supostamente revelem hábitos pessoais dos candidatos.
Foto: Janaina Garcia / Terra

Luiz Fernando e Paola, jornalistas
Henry Colombi, 18, estudante de direito
Em BH o Aécio ganhou. Eu mesmo acredito nele, então,
não foi bem o resultado que eu queria. Eu desejava mudanças – de pessoa
no comando, mesmo. Acho que as pessoas se acomodaram e ficaram com medo
de perder benefícios sociais. Se a Dilma fizer metade do que se propôs a
fazer, já está bom. Só não concordo em se dar o leite e não a vaca – ou
seja, em se proporcionarem os fins, não os meios para as pessoas
deixarem a pobreza.
Foto: Janaina Garcia / Terra

Henry, estudante de direito
Selma Lamounier, 63 anos, esteticista
O Aécio perdeu porque os acomodados não queriam
perder seus benefícios (via programas de transferência de renda). Não
queriam perder a vida fácil.
Marco Túlio Lamounier, 68,comerciário
Aécio perdeu porque o mineiro não sabe votar – para
mim, ele era o melhor candidato. Se o cidadão for incompetente para
escolher, não adianta ter um bom nome disputando.
João Gomes, 75 anos, aposentado
Acho que ele perdeu porque o povo de Minas sabe que
nem tudo que o candidato dizia que deu certo por aqui era verdade – a
Educação estadual que o diga. E na época em que ele foi governador não
saía tudo que era errado na imprensa daqui; agora, em uma campanha
nacional, a visibilidade até para essas coisas é outra.
Foto: Janaina Garcia / Terra

João Gomes, aposentado
Diego Neves, 32 anos, publicitário
Acredito que as redes sociais influenciaram bastante
e favoreceram menos o senador do que a presidente. Isso, na minha
opinião, foi decisivo na comparação entre um e outro até para quem é
eleitor em Minas.
Francisco da Cunha Sousa, 22 anos, publicitário
Francisco da Cunha Sousa, 22 anos, publicitário
Foto: Janaina Garcia / Terra

Diego e Francisco, publicitários
Do site Terra
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