Humberto Sales
Divulgação do Mapa da Violência coincidiu com votação do projeto que reduz a maioridade penal. Em Natal, entidades fizeram protesto
Em uma década, conforme publicado
ontem no Mapa da Violência, o Rio Grande do Norte saltou da 22ª para 4ª
posição no ranking dos estados brasileiros com o maior número de adolescentes
com 16 e 17 anos de idade assassinados. Em 2003, foram mortos 19 adolescentes
com as referidas faixas etárias. Dez anos depois, o número subiu para 117,
perfazendo um aumento de 560,2%. No período, a vitimização de adolescentes de
16 e 17 anos aumentou quase sete vezes no estado potiguar. Em 2013, do total de
vítimas, 108 do sexo masculino e 9 do sexo feminino; 91 eram negros e 26 de
outras etnias. A maioria deles foi assassinada por armas de fogo. A variação
dos homicídios registrada no Rio Grande do Norte em uma década é considerada
“drástica e inaceitável” pelos autores do estudo.
Na capital, Natal, situação não é tão
diferente. O aumento do número de adolescentes com 16 e 17 anos de idade
assassinados foi de 213,2% no mesmo intervalo de tempo. Em 2003, foram mortos
16 adolescentes e, uma década depois, 43. O percentual colocou a então pacata
Natal na lista das cinco capitais brasileiras nas quais mais cresceram as taxas
de homicídio na faixa etária analisada pela Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais (Flacso), autora do Mapa da Violência. No Brasil, o homicídio
foi a causa da morte de quase 50% dos adolescentes com 16 e 17 anos
assassinados em 2013.
O estudo aponta que “no Nordeste, os
estados de Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte são os que pressionam para cima
as taxas regionais”. Ao considerar o crescimento dos homicídios de adolescentes
como “drástico” no Rio Grande do Norte, Ceará e Roraima, o Mapa da Violência
destaca que os níveis de variação do assassinato dos adolescente são
“totalmente inaceitáveis” nos estados potiguar e cearense, que apresentaram
variações de 560,2% e 436%, respectivamente. Além dos estados
anteriormente citados, o Distrito Federal, Goiás e Paraíba, foram os que
evidenciaram as maiores taxas de mortalidade de adolescentes de 16 e 17 anos no
intervalo de tempo analisado.
A maioria das vítimas é oriunda das camadas mais
pobres da sociedade, cujo acesso à Educação e Saúde são limitados, não
restando-lhes perspectivas de vida satisfatórias. No Rio Grande do Norte, em
dez anos, morreram mais negros do que brancos. Somente em 2013, morreram quase
seis vezes mais adolescentes negros do que brancos. O índice de vitimização da
primeira etnia foi de 295,3% para cada 100 mil adolescentes. Nacionalmente,
conforme apontado pelo estudo, em “2003 o índice de vitimização negra rondava
70% (morrem, proporcionalmente, 70% mais negros que brancos), em 2013 essa
vitimização mais que duplica: fica perto de 180% (por cada branco morrem 2,8
negros)”.
Para o futuro, as perspectivas de reversão do
atual cenário em relação à etnia das vítimas não são positivas. “Nada indica um
possível processo de reversão dessa vitimização negra, o que está evidenciando
a insuficiência de políticas destinada a superar essa seletividade extrema por
motivo de cor. O preocupante e inaceitável é que essa seletividade homicida dos
adolescentes negros, que se reflete nos índices de vitimização, vem crescendo
drasticamente ao longo dos últimos 10 anos. Em 2003 a vitimização de jovens
negros foi de 71,8%. Em 2013, de 173,6%. O crescimento da vitimização no
período foi de 141,7% mais negros que brancos quando comparado ao ano de 2003”,
aponta o documento.
O Mapa da Violência, em suas considerações
finais, traz à tona a discussão em torno da redução da maioridade penal.
“Esquece-se, de forma muito conveniente, que não foram os adolescentes que
construíram esse mundo violências e corrupção. Esse está sendo nosso legado.
Devem ser eles a pagar a conta?”.
Cenário exige
potencialização de políticas públicas no RN
O promotor de Justiça de Defesa da Criança e do
Adolescente, Manoel Onofre de Souza Neto, avaliou que o atual cenário de
aumento da violência na adolescência só mudará com a “potencialização de
políticas públicas de forma contundente”. Elas incluem, segundo o promotor, a
elaboração de projetos e programas cujo aporte financeiro para execução deve
estar assegurados pelos entes públicos.
“É preciso ter muito cuidado com a primeira
infância, quando a criança inicia a formação da sua personalidade. As famílias
devem ser assistidas com suporte educacional e formação social que inclui
acesso à escola, ao sistema de saúde e qualidade de vida”, defendeu Manoel
Onofre de Souza Neto. Ele comparou que, diferente do ensino superior na
atualidade, a Educação Infantil Básica e Fundamental não recebe a devida
atenção dos Governos Federal, Estadual e Municipal. “A educação infantil é
deficitária e a União não faz por onde potencializá-la”, lamentou o promotor.
Para comentar os dados e comentar quais medidas
foram ou serão tomadas para reduzir os índices de mortalidade entre adolescentes
no estado potiguar, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social
foi procurada no início da noite de ontem. A assessoria, porém, não respondeu
ou retornou às tentativas de contato telefônico.
Da Tribuna do Norte
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