A violência que se instalou em Mossoró este ano vem assustando a população, que tem de conviver quase que diariamente com todos os tipos de crimes, além de dividir o mesmo espaço com bandidos que circulam livremente.
Somente este ano já foram cometidos mais de 120 assassinatos em todo o município, se igualando a marca dos homicídios ocorridos durante todo o ano passado, um acréscimo de aproximadamente 71%, que preocupa as autoridades e a população de uma forma geral.
Os dados da violência são oficiais e foram repassados pelo Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep), responsável pelas necropsias e análises criminais de homicídios.
As comparações feitas com o boletim do Itep de 2010, emitido no final do ano passado, com os sete meses deste ano, mostram um fato surpreendente na quantidade de crimes registrados mensalmente. Somente este ano foram cometidos uma média de 17, 85 homicídios por mês, com destaque para maio que registrou 27 assassinatos, quase um por dia. No ano passado, juntando todos os meses ocorreram uma média de 10,41 assassinatos, com destaque para o mês de dezembro, que registrou 16 crimes de homicídios.
A crescente violência desencadeia uma série de opiniões entre as autoridades, que diante dos números tentam encontrar respostas para explicar os assassinatos. O tema já foi destaque de inúmeras matérias especiais, onde psicólogos, assistentes sociais, delegados e a população convergem e divergem ao mesmo tempo com relação aos motivos.
Em recente entrevista, o psicólogo José Evangelista Lima, professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), destacou que um dos fatores responsáveis pela criminalidade é a falta de limites nas crianças e adolescentes, que deveriam ser impostos pelos pais ou responsáveis, onde desde muito cedo ficam fora da escola e passam a conviver com o submundo do crime, principalmente em áreas periféricas.
"Os jovens são muito imediatistas, querem sempre as coisas para ontem e quando não frequentam uma escola para estudar e planejar o futuro buscam na criminalidade a maneira mais curta para se conseguir dinheiro, objetos e "status'", explicou.
Já o delegado Renato Batista, titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Mossoró, acredita que a maioria dos crimes está relacionada às drogas. "Mais da metade dos assassinatos ocorridos em Mossoró está ligada a problemas com drogas. As investigações sempre apontam para uma realidade crucial, onde jovens se envolvem com drogas e acabam sendo mortos, isso é muito preocupante", destacou.
Violência faz Sesed tomar medidas arbitrárias em relação à imprensa
A realidade da violência mostra uma cidade entregue à criminalidade, onde governo e polícia não conseguem conter os criminosos. Eles agem livre e impunemente, sem que nada possa detê-los.
Recentemente o jornal O Mossoroense publicou uma matéria especial divulgando os 100 primeiros assassinatos ocorridos em Mossoró, que causou um tremendo descontentamento nos segmentos governamentais, que em retaliação proibiu a divulgação dos dados oficiais que eram fornecidos pelo Itep e pelo Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp).
A medida arbitrária, ordenada pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), através do secretário Aldair Rocha, pegou todos os segmentos da imprensa de surpresa, além de impedir a população de ter acesso às informações. O estudante de direito Anderson Martins Barbosa classifica a medida da Sesed como antipática e arbitrária. Segundo ele, a Constituição Federal assegura o direito às informações, principalmente de caráter público, como é o caso do Ciosp e Itep.
"Não é admissível que o governo tente maquiar a violência proibindo a imprensa de divulgar as informações à população. Ao invés de coibir, tivesse colocando em prática os planos de segurança que apresentou à população em audiência pública recentemente", destacou.
Diante da censura, jornalistas que cobrem a área policial iniciaram um movimento junto a outras instituições e ao Ministério Público para acabar com a proibição da Sesed e os repórteres possam ter acesso às informações como acontecia antes.
Depois de toda movimentação desencadeada pela imprensa mossoroense, na tarde da última sexta-feira a Sesed autorizou o Itep a disponibilizar o livro de registro à imprensa, além de repassar eletronicamente todas as informações ligadas à violência.
Redução de crimes pode estar relacionado a trabalho ostensivo
O governo apresentou na semana passada uma estatística onde mostra redução de 250% na criminalidade no mês de julho em comparação ao mês de maio deste ano, considerado o mais violento da história.
Os números foram repassados pelo comandante do Segundo Batalhão de Polícia Militar (2º BPM), tenente-coronel Túlio César de Oliveira Alves. De acordo com o comandante, a queda na criminalidade é devido o trabalho ostensivo que está sendo desempenhado pela corporação nos bairros da cidade.
É bem verdade que o trabalho policial está surtindo efeito, no entanto alguns especialistas na violência de Mossoró atribuem outro fator importante além do trabalho da PM para a redução dos crimes.
Segundo se apurou, o trabalho de investigação realizado pelas delegacias especializadas, identificando os criminosos, também contribuiu decisivamente para a diminuição dos homicídios.
"Quando os criminosos agem livremente sem serem identificados, com certeza voltam a matar, uma vez que não foram punidos, porém quando são identificados temem dar continuidade aos atos criminosos, devido sua situação com a justiça se agravar e com isso recuam e consequentemente os crimes diminuem", explicou um delegado.
Fonte: Jornal O Mossoroense
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