
Padre José de Anchieta (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
O Papa Francisco
assinou nesta quinta-feira (3) um decreto que proclama santo o jesuíta
espanhol José de Anchieta, conhecido como Padre Anchieta, mais de 400
anos após a abertura de seu processo de canonização.
Segundo o Vaticano,
esse é o primeiro santo de 2014 e o segundo jesuíta a ser canonizado
por Francisco. Antes dele, em dezembro de 2013, foi a vez do francês
Pedro Fabro.
A assinatura, esperada inicialmente para acontecer na quarta-feira (2),
ocorreu durante uma reunião entre o pontífice e o cardeal Angelo Amato,
prefeito da Congregação das Causas dos Santos, responsável por todos os
processos de beatificação e canonização existentes na Santa Sé.
Durante o encontro, Francisco também tornou santo outros dois
religiosos canadenses: D. Francisco de Laval (1623-1708), que foi bispo
de Québec, e a Irmã Maria da Encarnação (1599-1672), fundadora de um
mosteiro da ordem das freiras Ursulinas na mesma cidade.
Apóstolo do Brasil
São José de Anchieta, que viveu no século 16, atuou no Brasil na maior parte de sua vida. Foi um dos fundadores da cidade de São Paulo, em 1554, e visitou diversas localidades.

Ele é o terceiro santo a ter laços estreitos com o país. A primeira foi
Madre Paulina, santa desde 2002. Em seguida, veio Frei Galvão,
brasileiro nascido em Guaratinguetá (SP), proclamado Santo Antônio de Sant'Ana Galvão em 2007 por Bento XVI, em visita ao Brasil.
Entretanto, diferentemente de Madre Paulina e Frei Galvão, José de
Anchieta não teve seus dois supostos milagres reconhecidos pelo
Vaticano. Relatos de mais de 400 anos apontam que esses feitos
aconteceram, mas o longo tempo passado desde então impossibilita sua
comprovação, segundo historiadores.
A canonização de Anchieta, portanto, se dará por seu trabalho
missionário feito no Brasil, principalmente pela catequização de índios
no período da colonização, além da fundação de missões jesuítas em
várias províncias brasileiras.
Sinal de esperança
De acordo com o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, a criação de um novo santo, ainda mais quando tem relação com o Brasil, é motivo de festa.
"[Ele] Representa um membro da igreja que teve uma vida santa, fé profunda, amor ao próximo e que viveu integramente, ou seja, não fez mal ao próximo. É uma pessoa que representa um sinal de esperança para os outros", disse o religioso.
Ainda de acordo com o cardeal, a canonização de Anchieta era aguardada
desde a sua morte, em 1597. "Chegou o momento agora com o Papa
Francisco, e nós nos alegramos muito e agradecemos a Deus", afirmou Dom
Odilo Scherer.
Histórico
Nascido nas Ilhas Canárias, arquipélago que pertence à Espanha, Anchieta ingressou aos 17 anos na Companhia de Jesus, congregação religiosa fundada no século 16 e responsável pelo processo de evangelização na América Latina.
Os integrantes da instituição, que existe até hoje, são chamados de
jesuítas – o Papa Francisco é o primeiro deles a ser eleito como líder
da Igreja Católica, em março de 2013.
Segundo Carla Galdeano, coordenadora do Museu Anchieta, no Pateo do
Collegio, em São Paulo, José de Anchieta chegou ao Brasil com 19 anos,
ansioso para trabalhar com indígenas. Em 1554, participou da fundação de
São Paulo.
Aprendeu a língua nativa (o tupi) e, com a ajuda de curumins (crianças
índias) que exerciam o papel de tradutores, escreveu o livro "Arte de
grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil", que ajudava outros
religiosos a entender a língua indígena durante o processo de catequização do Brasil-Colônia (o texto pode ser lido aqui).
Ao longo da vida, Anchieta ficou conhecido por sua característica de
conciliador. Exerceu papel fundamental durante o conflito entre índios
tamoios (ou tupinambás) e tupiniquins, chamado de Confederação dos
Tamoios, que, segundo Carla, ocorreu entre 1563 e 1564.
Na época, os tamoios, apoiados pelos franceses, se rebelaram contra os
tupiniquins, que recebiam suporte dos portugueses. Para apaziguar os
ânimos, Anchieta se ofereceu para ficar de refém dos tamoios na aldeia
de Iperoig (onde atualmente fica Ubatuba, no litoral norte de SP),
enquanto outro jesuíta, o padre Manoel da Nóbrega, seguiu para o litoral
paulista para negociar a paz.
Enquanto esteve "preso", a devoção de Anchieta à Virgem Maria o fez
escrever na areia da praia a obra "Poema à Virgem", com quase 5 mil
versos. A imagem desse momento foi retratada séculos depois pelo artista
Benedito Calixto, no quadro que leva o mesmo nome da obra literária e
está exposto atualmente no Museu Anchieta.
Anos depois, o padre foi nomeado "Províncial do Brasil" da Companhia de
Jesus, responsável por todas as missões jesuítas do país. Assim,
visitou várias regiões até morrer, aos 63 anos.
Processo longo de canonização
O jesuíta foi beatificado por João Paulo II em 1980, na primeira etapa antes de se tornar santo. O pedido para que isso ocorresse, no entanto, foi feito ainda no século 16.
Mudanças no
Código Canônico e conflitos que acabaram com a expulsão dos jesuítas do
Brasil, em 1759, atrasaram o processo.
Segundo o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de
Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a
proclamação do jesuíta espanhol como santo ocorreu por suas ações que,
segundo ele, "comprovaram que sua vida foi cheia de milagres".
"[Com essa atitude] Acredito que a Igreja Católica deve rever o método de canonização. Isso pode abrir outras possibilidades para criar mais santos."
"[Com essa atitude] Acredito que a Igreja Católica deve rever o método de canonização. Isso pode abrir outras possibilidades para criar mais santos."

Quadro
pintado pelo artista Benedito Calixto retrata o jesuíta José de
Anchieta escrevendo o 'Poema à Virgem', enquanto era refém de indígenas
no litoral brasileiro (Foto: Divulgação/Museu de Anchieta)
Fonte: G1
catequização do Brasil-Colônia (o texto pode ser lido aqui).
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