segunda-feira, 30 de junho de 2014

Facebook é criticado por manipular informações para estudar emoções dos usuários

2013-631769129-FACEBOOK-RESULTS__20130725 

O Facebook comprovou por meio de uma pesquisa que as informações lidas na rede social interferem no humor do usuário. Mas a forma como o estudo foi realizado está gerando uma tempestade de críticas pelo mundo. O principal motivo para a grita generalizada é que a turma de Mark Zuckerberg não informou as pessoas de que elas estariam participando da análise.

O estudo, feito em parceria com acadêmicos das universidades da Califórnia e de Cornell, envolveu 689 mil pessoas. Os coordenadores da pesquisa filtraram seus “feeds”, o mural de comentários, vídeos, fotos e links postados por pessoas de suas timeline. Um dos testes reduziu a exposição dos usuários a postagens positivas de seus amigos, o que os levou a fazer menos posts positivos. Outro teste reduziu a exposição a posts negativos, o que levou esses usuários a serem menos negativos na rede.

O estudo concluiu: “Emoções expressadas por amigos, via redes sociais, influenciam nosso humor, constituindo, para nosso conhecimento, na primeira evidência experimental de contágio emocional de larga escala por meio de redes sociais”.

O artigo publicado na “Proceedings of the National Academy of Sciences” analisou mais de 3 milhões de postagens contendo 122 milhões de palavras que foram separadas, através de um algoritmo, como positivas ou negativas. A segunda etapa foi exibir quantidades maiores de postagens de um tipo para cada usuário e perceber se eles passariam a reproduzir comportamento positivo ou negativo na rede social.

O resultado da pesquisa elaborada por Adam Kramer, do Facebook, Jamie Guillory, da Universidade da Califórnia, e Jeffey Hancock, da Universidade de Cornell, descobriu que os textos visualizados na rede social possuem grande impacto na emoção das pessoas.

Pesquisadores criticam falta de consentimento

Mas fazer uma pesquisa desse porte sem o consentimento das pessoas está causando uma enorme polêmica. Cientistas não envolvidos com o estudo estão usando palavras como “absurdo” e “escândalo” para tratar do assunto. Nos “Termos de Uso” do Facebook, está previsto que o site pode fazer análises com pessoas inscritas na rede, mas, mesmo assim, a prática foi considera antiética.

“O padrão de consentimento para as condições de serviço é baixo. Mas esse ‘consentimento’ é uma ficção jurídica, destinada a facilitar a interação on-line. É muito diferente do consentimento informado que é o padrão ético e legal para a experimentação com seres humanos”, escreveu o professor de Direito, James Grimmelmann, da Universidade de Maryland, em seu blog onde afirmou que o procedimento adotado pela rede social violou uma série de condutas normatizadas até na lei federal americana.

“Facebook escolheu andar em um campo minado na área legal e ética, devemos sentir pouca simpatia quando, ocasionalmente, explodirem. Este estudo é um escândalo porque trouxe práticas preocupantes do Facebook em um reino – a academia – onde ainda temos padrões de tratar as pessoas com dignidade e servir ao bem comum”.

As críticas também chegaram em outras áreas da ciência que lidam com pesquisas com humanos e seguem os procedimentos do consentimento informado. O pesquisador de epidemiologia Max Masnick, também de Maryland, criticou a forma como o Facebook realizou o estudo.

“Consentimento informado significa que o participante tanto entende essa informação como concorda em participar da pesquisa” , escreveu em seu blog onde afirmou que não basta a anuência nos “Termos de Uso”

“Eu não tenho nenhuma ideia do que diz a Política de Dados do Uso do Facebook. Talvez ela tenha todos os elementos requeridos judicialmente para o consentimento informado, talvez não. Mas isso não importa. Ninguém, realmente, lê a Política de Dados. Portanto, nenhum consentimento foi informado”.

Facebook pede desculpas

Adam Kramer, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, escreveu em sua página no Facebook que a pesquisa foi feita pois seus idealizadores “se importam com o impacto emocional do Facebook e das pessoas que usam nosso produto” e ainda afirmou que o universo trabalhado era de um grupo muito pequeno em um curto espaço de tempo.

“Ninguém teve postagens ‘escondidas’, elas simplesmente não apareceram em algumas atualizações do feed. Essas mensagens sempre puderam ser vistas nas páginas dos seus amigos, e poderiam aparecer em atualizações futuras”, afirma o pesquisador que enaltece os resultados obtidos

“E encontramos exatamente o oposto ao que era tão visto como conhecimento convencional: vendo um certo tipo de emoção (positiva), ao invés de deprimir, incentiva o usuário”.

Ao final, Kramer pede desculpas pela ansiedade gerada e afirma que as condutas de pesquisas do Facebook estão sempre sendo renovadas e que, desde que o estudo foi feito, muito já foi pensado.

“O objetivo de todas as nossas pesquisas no Facebook é para aprender a prestar um serviço melhor. Tendo escrito e desenhado esta experiência, posso dizer que o nosso objetivo nunca foi incomodar ninguém. Eu posso entender o motivo de algumas pessoas terem preocupações sobre o assunto, eu e os meus co-autores estamos muito tristes pela forma como a publicação (do estudo) descreveu a pesquisa e toda a ansiedade que causou. Em retrospectiva, os benefícios do trabalho de pesquisa podem não ter justificado toda essa ansiedade”.

O Globo via Blog do BG

Nenhum comentário:

Postar um comentário