O
Facebook comprovou por meio de uma pesquisa que as informações lidas na
rede social interferem no humor do usuário. Mas a forma como o estudo
foi realizado está gerando uma tempestade de críticas pelo mundo. O
principal motivo para a grita generalizada é que a turma de Mark
Zuckerberg não informou as pessoas de que elas estariam participando da
análise.
O estudo, feito em parceria com
acadêmicos das universidades da Califórnia e de Cornell, envolveu 689
mil pessoas. Os coordenadores da pesquisa filtraram seus “feeds”, o
mural de comentários, vídeos, fotos e links postados por pessoas de suas
timeline. Um dos testes reduziu a exposição dos usuários a postagens
positivas de seus amigos, o que os levou a fazer menos posts positivos.
Outro teste reduziu a exposição a posts negativos, o que levou esses
usuários a serem menos negativos na rede.
O estudo concluiu: “Emoções expressadas
por amigos, via redes sociais, influenciam nosso humor, constituindo,
para nosso conhecimento, na primeira evidência experimental de contágio
emocional de larga escala por meio de redes sociais”.
O artigo publicado na “Proceedings of
the National Academy of Sciences” analisou mais de 3 milhões de
postagens contendo 122 milhões de palavras que foram separadas, através
de um algoritmo, como positivas ou negativas. A segunda etapa foi exibir
quantidades maiores de postagens de um tipo para cada usuário e
perceber se eles passariam a reproduzir comportamento positivo ou
negativo na rede social.
O resultado da pesquisa elaborada por
Adam Kramer, do Facebook, Jamie Guillory, da Universidade da Califórnia,
e Jeffey Hancock, da Universidade de Cornell, descobriu que os textos
visualizados na rede social possuem grande impacto na emoção das
pessoas.
Pesquisadores criticam falta de consentimento
Mas fazer uma pesquisa desse porte sem o
consentimento das pessoas está causando uma enorme polêmica. Cientistas
não envolvidos com o estudo estão usando palavras como “absurdo” e
“escândalo” para tratar do assunto. Nos “Termos de Uso” do Facebook,
está previsto que o site pode fazer análises com pessoas inscritas na
rede, mas, mesmo assim, a prática foi considera antiética.
“O padrão de consentimento para as
condições de serviço é baixo. Mas esse ‘consentimento’ é uma ficção
jurídica, destinada a facilitar a interação on-line. É muito diferente
do consentimento informado que é o padrão ético e legal para a
experimentação com seres humanos”, escreveu o professor de Direito,
James Grimmelmann, da Universidade de Maryland, em seu blog onde afirmou
que o procedimento adotado pela rede social violou uma série de
condutas normatizadas até na lei federal americana.
“Facebook escolheu andar em um campo
minado na área legal e ética, devemos sentir pouca simpatia quando,
ocasionalmente, explodirem. Este estudo é um escândalo porque trouxe
práticas preocupantes do Facebook em um reino – a academia – onde ainda
temos padrões de tratar as pessoas com dignidade e servir ao bem comum”.
As críticas também chegaram em outras
áreas da ciência que lidam com pesquisas com humanos e seguem os
procedimentos do consentimento informado. O pesquisador de epidemiologia
Max Masnick, também de Maryland, criticou a forma como o Facebook
realizou o estudo.
“Consentimento informado significa que o
participante tanto entende essa informação como concorda em participar
da pesquisa” , escreveu em seu blog onde afirmou que não basta a
anuência nos “Termos de Uso”
“Eu não tenho nenhuma ideia do que diz a
Política de Dados do Uso do Facebook. Talvez ela tenha todos os
elementos requeridos judicialmente para o consentimento informado,
talvez não. Mas isso não importa. Ninguém, realmente, lê a Política de
Dados. Portanto, nenhum consentimento foi informado”.
Facebook pede desculpas
Adam Kramer, um dos pesquisadores
envolvidos no projeto, escreveu em sua página no Facebook que a pesquisa
foi feita pois seus idealizadores “se importam com o impacto emocional
do Facebook e das pessoas que usam nosso produto” e ainda afirmou que o
universo trabalhado era de um grupo muito pequeno em um curto espaço de
tempo.
“Ninguém teve postagens ‘escondidas’,
elas simplesmente não apareceram em algumas atualizações do feed. Essas
mensagens sempre puderam ser vistas nas páginas dos seus amigos, e
poderiam aparecer em atualizações futuras”, afirma o pesquisador que
enaltece os resultados obtidos
“E encontramos exatamente o oposto ao
que era tão visto como conhecimento convencional: vendo um certo tipo de
emoção (positiva), ao invés de deprimir, incentiva o usuário”.
Ao final, Kramer pede desculpas pela
ansiedade gerada e afirma que as condutas de pesquisas do Facebook estão
sempre sendo renovadas e que, desde que o estudo foi feito, muito já
foi pensado.
“O objetivo de todas as nossas pesquisas
no Facebook é para aprender a prestar um serviço melhor. Tendo escrito e
desenhado esta experiência, posso dizer que o nosso objetivo nunca foi
incomodar ninguém. Eu posso entender o motivo de algumas pessoas terem
preocupações sobre o assunto, eu e os meus co-autores estamos muito
tristes pela forma como a publicação (do estudo) descreveu a pesquisa e
toda a ansiedade que causou. Em retrospectiva, os benefícios do trabalho
de pesquisa podem não ter justificado toda essa ansiedade”.
O Globo via Blog do BG
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