Secret não podia ser baixado na loja brasileira de
apps da Apple nesta quinta (21) (Foto: Reprodução)
apps da Apple nesta quinta (21) (Foto: Reprodução)
O aplicativo Secret, que permite a postagem e o compartilhamento de
mensagens de forma anônima, não podia mais ser baixado da loja
brasileira de aplicativos da Apple na tarde desta quinta-feira (21). O
app continua listado e aparece nas buscas da App Store, mas ao tentar
fazer o download, o usuário recebe uma mensagem que diz que "o item que
você tentou comprar não está mais disponível".
A remoção acontece após a Justiça do Espírito Santo determinar, em decisão liminar, na terça-feira (19), a retirada do Secret
das lojas de aplicativos do Google e da Apple, e do Cryptix, de
funcionamento similar, da loja da Microsoft. A Justiça acolhe o pedido
do Ministério Público do Espírito Santo, que protocolou uma ação civil pública na sexta-feira (15).
O G1 verificou, no entanto, que contas de outros países ainda conseguem instalar o aplicativo em seus iPhones e iPads. Na Google
Play, loja de apps do sistema operacional Android, o Secret ainda podia
ser baixado normalmente pelos usuários brasileiros nesta quinta (21).
Além de determinar a suspensão do aplicativo, a Justiça decidiu ainda
que as empresas devem também remover remotamente os aplicativos dos
smartphones das pessoas que já os instalaram. Esse também era um pedido
do MP-ES, em ação assinada pelo promotor Marcelo Zenkner. A Justiça
fixou multa de R$ 20 mil para cada dia de descumprimento.
Usuários compartilham segredos anonimamente
pelo app 'Secret' (Foto: Reprodução/Secret)
O Google informou que ainda não foi notificado, mas que não comenta
casos específicos. "Qualquer pessoa pode denunciar um aplicativo se
julgar que o mesmo viola os termos de uso e políticas da Google Play ou a
lei brasileira. O Google analisará a denúncia e poderá remover o
aplicativo, se detectar alguma violação." A Microsoft também disse ainda
não ter sido notificada: "A Microsoft não recebeu qualquer notificação,
portanto, não pode comentar o caso". A Apple não respondeu até a
publicação deste texto.
Como o nome diz, o Secret permite que segredos sejam contados, sem que a
identidade do autor da mensagem seja revelada. O caráter anônimo do app
abre uma brecha para que não só segredos, mas também mentiras sejam
espalhadas pela rede.
Para o juiz Paulo Cesar de Carvalho, da 5ª Vara Cívil de Vitória, o
Secret infringe princípios constitucionais, por permitir que seus
usuários usufruam do direito à liberdade de expressão sob a condição de
anonimato. "A liberdade de expressão não constitui um direito absoluto,
sendo inúmeras as hipóteses em que o seu exercício entra em conflito com
outros direitos fundamentais ou bens jurídicos coletivos
constitucionalmente tutelados, que serão equacionados mediante uma
ponderação de interesses, de modo a garantir o direito à honra,
privacidade, igualdade e dignidade humana e, até mesmo, proteção da
infância e adolescência, já que não há qualquer restrição à utilização
dos aplicativos indicados na inicial", escreveu o juiz na decisão.
Bullying Virtual
"O anonimato mostra-se absolutamente incompatível com tais premissas balizadoras de nosso sistema, assim como o aviltamento, in casu gratuito, despropositado e desmedido, à honra e à imagem de qualquer pessoa", afirmou o promotor Zenkner. "O aplicativo 'Secret' fornece o instrumento apto ao cometimento daquilo que, corriqueiramente, tem sido chamado de 'bullying virtual'".
"O anonimato mostra-se absolutamente incompatível com tais premissas balizadoras de nosso sistema, assim como o aviltamento, in casu gratuito, despropositado e desmedido, à honra e à imagem de qualquer pessoa", afirmou o promotor Zenkner. "O aplicativo 'Secret' fornece o instrumento apto ao cometimento daquilo que, corriqueiramente, tem sido chamado de 'bullying virtual'".
Para o promotor, "as exigências constitucionais o direito à imagem, à
privacidade, à intimidade, à honra e, principalmente à dignidade da
pessoa humana, estão sendo acintosamente violadas" por Google e Apple
"ao disponibilizarem aos usuários o aplicativo Secret".
Direito difuso
O pedido do promotor é similar ao feito pelo consultor de marketing Bruno Machado, que entrou na Justiça de São Paulo. O rapaz se sentiu ofendido por ser citado em postagens que considerou ofensivas no aplicativo. No caso dele, porém, a Justiça de São Paulo entendeu que o pedido dele, para suspender o Secret, interferia no direito de outras pessoas.
Em decisão da semana passada, o juiz Roberto Luiz Corcioli Filho, no
entanto, considerou pertinente a argumentação da advogada de Machado,
Gisele Arantes, do escritório Mendes e Assis. Além do citado apelo ao
anonimato apontado inconstitucional pelo MP-ES, Gisele apontou que o app
infringe o Código de Defesa do Consumidor (por não ter termos em
português) e o Marco Civil (por não ter representação no Brasil e não
estar em consonância com a legislação brasileira apesar de ter usuários
do país).
O promotor do Ministério Público do Espírito Santo afirma que a ação civil pública, por outro lado, tem efeito coletivo.
Do G1
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