quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Não existe justificativa para celebrar morte da ex-primeira-dama

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A ex-primeira-dama e mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia Lula da Silva, 66, teve morte cerebral nesta quinta-feira (2) em razão de complicações causadas por um AVC (Acidente Vascular Cerebral) hemorrágico. Desde a internação da ex-primeira-dama até o anúncio de sua morte, as redes sociais e os espaços de comentários dos sites de notícias foram palco para muitos comemorarem a tragédia da família Silva.
Na opinião de Aurélio Melo, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, muitas pessoas catalisam os sentimentos [tristeza por ser demitido, por exemplo] que tinham e culpam a família de Lula por isso. "Não existe uma justificativa para que alguém celebre a morte de outra pessoa. Mas o que as pessoas estão fazendo é expressar um ódio por uma figura pública que pode ter supostamente o prejudicado. Essa comemoração mórbida é uma expressão de ódio, de intolerância e de falta de ética", explica.
Para Melo, é inevitável controlar os pensamentos e sentimentos, no entanto, é possível controlar o que será compartilhado nas redes sociais. "Posso até não gostar dela, mas tenho a capacidade de evitar comentar sobre isso. Ao deixar isso de lado e postar um comentário celebrando sua morte, a pessoa está cometendo uma falha ética", diz.

Falta de empatia

Para Viviane Rossi, psicóloga pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), o único motivo que leva alguém a comemorar a morte de outra pessoa é a falta de empatia. "Essas pessoas têm uma dificuldade imensa de colocar-se no lugar do outro, independentemente do relacionamento ou sentimento que tenham pelo ex-presidente e pela ex-primeira-dama", opina.
A psicóloga acredita também que quem escreve esses comentários deixa de se importar com a dor do ex-presidente por "vingança". "Há quem pense que ele fez algum mal para o país, focam nas denúncias de corrupção e aí pensam que, só por que ele "causou" uma dor, agora ele pode sentir outra dor, e ninguém precisa se compadecer com isso", afirma.
Viviane acredita que essa dificuldade que as pessoas têm de se colocar no lugar do outro aumenta pelo fato de elas enxergarem o casal como entidades políticas e não como pessoas. "Há uma dificuldade de ver o Lula como um marido, entender que Marisa deixa filhos e netos que vão chorar sua perda. Eles são pessoas", explica.

Ódio em 1º lugar

O professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie acredita que esse cenário atual acontece, pois os valores da sociedade estão mudando com o passar do tempo. "A morbidez, a intolerância e o ódio estão tão na moda que existem até os 'haters'. E agora essas atitudes de intolerância começam a surgir até mesmo em casos delicados como esse [morte]", diz.
Para Melo, hoje as pessoas se dão ao direito de odiarem as outras. "Isso, do ponto de vista ético, é complicado. O próprio historiador Leandro Karnal vem demonstrando como pecados capitais, como luxúria, ira e gula estão sendo permitidos na sociedade atual. Agora não é um sentimento mal visto e sem justificativa, todo mundo pode odiar livremente", explica.
Mas Melo relembra de um dos trechos da filosofia de Spinoza que diz que raiva é medo. "No século 17, antes da psicologia como ciência, encontramos na filosofia dele esse trecho é uma coisa óbvia, mas difícil de entender. Quando a gente tem raiva de alguma coisa, existe um sentimento de medo associado. Se você odeia uma pessoa, tem medo que ela possa te prejudicar de alguma forma", diz.

Silêncio e respeito

Para Melo, a melhor maneira para lidar com a situação é o silêncio. "A pessoa comemorar a morte de alguém desumaniza o outro. O ideal do ponto de vista do valor moral, ainda que a pessoa não goste da figura da ex-primeira-dama, é o silêncio. Uma plateia diante de um espetáculo tem três opções: aplaudir, vaiar ou silenciar", afirma.
Viviane recomenda o exercício da empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro em uma situação como essa. "É uma questão de respeito que é preciso ter com qualquer pessoa, independente de história e vida política. Uma pessoa da família Silva morreu e tem que existir respeito por isso, pela dor dessa família. É preciso colocar-se no lugar do outro, independentemente de partido e situação política", diz.

Espalhar o ódio

Para Ana Luiza Mano, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, a internet ainda é palco dessas manifestações de comentários, pois as pessoas se sentem mais desinibidas na rede. "Principalmente pelo fato de não precisarem encarar ninguém face a face. Um discurso de ódio frente a um acontecimento ou indivíduo, na verdade, revela mais sobre quem está falando, do que sobre o tema em questão", acredita. Ou seja, segundo Ana Luiza, comentários de ódio revelam agressividade da própria pessoa que escreveu, bem como comentários de solidariedade, mostram que a pessoa tem sensibilidade.
Viviane acredita que, ao identificar que outras pessoas se sentem como ela com relação a alguma temática, a coragem para tecer esses comentários aumenta. "A internet é apenas um meio que pessoas que já tem algum sentimento latente de raiva, angústia e revolta utiliza para extravasar. A partir do momento que uma, duas, três pessoas postam a mesma coisa, isso vai ganhando força, ela se sente em 'turma', perde o bom senso, o medo e o pudor", afirma.
No entanto, na opinião da psicóloga do NPPI, o objetivo dessas publicações é expressar seus pensamentos políticos. "As pessoas utilizam a notícia desse acontecimento para expressar questões delas próprias, seja seus pensamentos sobre política, justiça, ou qualquer outra temática. Por isso acontecem os discursos de ódio, a notícia vira um ponto onde as frustrações da pessoa podem ter vazão", fala.
Do site Bol

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